Mapa das epidemias
Novas ferramentas da internet revolucionam o conceito de vigilância epidemiológica ao combinar mapeamentos do Google Earth e informações de sites de notíci
Aplicativos que misturam recursos de busca e mapeamento com fontes digitais de informação estão ajudando as autoridades de saúde a rastrear epidemias com maior facilidade e a responder de forma mais rápida a eventos relacionados a doenças infecciosas. As novas ferramentas de vigilância epidemiológica da web diferenciam-se dos sistemas convencionais pela capacidade de capturar dados que frequentemente escapam aos órgãos ofi ciais, como a informação constante em blogs, chats e noticiários locais. A inovação revolucionária que introduzem é a possibilidade de vasculhar um enorme volume de informações na internet para identifi car, filtrar, coletar e organizar dados sobre doenças emergentes e oferecê-los ao internauta de forma útil, unificada e compreensível. Não é pouca coisa. Cientistas e órgãos governamentais têm se dado conta de que essas ferramentas são poderosas: não somente têm se mostrado capazes de disponibilizar informações em tempo real sobre a ocorrência de surtos e epidemias ao redor do mundo como, em alguns casos, podem prever sua ocorrência.
Uma manifestação contundente da contribuição dos aplicativos híbridos na vigilância epidemiológica mundial ocorreu no início de abril de 2009, com a participação do Health Map, que mescla os recursos de mapeamento do Google Earth com informações de sites de notícias, como o Google News, provedores de informação especializada, como o Pro-MED, e alertas de órgãos ofi ciais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Enquanto o mundo ainda estava focado na possibilidade do surgimento de uma pandemia de gripe aviária, o sistema capturou dados no noticiário local e emitiu um alerta sobre uma "misteriosa" doença respiratória que vinha atingindo a população da pequena localidade de La Gloria, México. Dez dias depois, a Rede de Inteligência Global de Saúde Pública reportou o surgimento da nova influenza − A H1N1, a gripe suína − à OMS, que imediatamente comunicou-se com os órgãos mundiais, regionais e nacionais de saúde.
Nova geração
Os primeiros esforços para utilizar a web como base para a vigilância epidemiológica foram realizados em 1994, quando foi criado o Pro-MED-mail, iniciativa do Programa para Monitoramento de Doenças Emergentes da Sociedade Internacional para Doenças Infecciosas. Trata-se de um sistema público que tria e remete via e-mail alertas sobre epidemias, que incluem estudos de caso e comentários de especialistas. O Pro-MED tem hoje 45 mil assinantes em 188 países. Alguns anos depois, surgiu o Global Public Health Intelligence Network (GPHIN), criado pela Agência de Saúde Pública do Canadá, em cooperação com a OMS. O sistema disponibiliza notícias de relevância na área de saúde pública em tempo real, 24 horas por dia, sete dias por semana, a partir de informações obtidas na internet por meio do monitoramento de fontes globais de saúde. As mudanças recentes nessa área que possibilitaram o surgimento de uma nova geração de aplicativos híbridos foi a introdução das ferramentas de mapeamento e visualização, como o Google Earth e o Google Maps.
Além de rastrear, categorizar e filtrar dados sobre epidemias, disponíveis em várias
fontes da web (midia online, sites governamentais, mailing lists, blogs e salas de chat), sistemas como Health Map, MediSys, Argus, BioCaster e EpiSPIDER exibem a localização geográfica dos eventos e oferecem uma visão sistêmica da evolução mundial de enfermidades infecciosas. As próximas novidades nessa área, preveem os estudiosos, serão a análise automatizada de materiais online de vídeo e áudio com base na web, queirão prover fontes adicionais para detecção precoce de epidemias, e a utilização ampliada das tecnologias como smartphone e microblogs, como o Twitter, para a disseminação e acesso à informação sobre doenças infecciosas. Além das constantes inovações tecnológicas, o assunto também já desperta interesse no campo teórico. Um jornal especializado em pesquisa médica pela internet (Journal of Medical Internet Research), do Centro para Inovação em E-Saúde, Canadá, publicou recentemente um artigo que explora os conceitos de "infodemiologia" e "infovigilância" (ver quadro à página 6). Para o autor, a infodemiologia é uma ciência emergente, baseada nos recursos da internet, cujas variadas aplicações incluem o monitoramento de consultas realizadas por internautas em mecanismos de busca com o objetivo de prever epidemias, a automatização de ferramentas da web para medir a difusão de conhecimento sobre saúde, o rastreamento da efetividade de campanhas digitais de prevenção e a ampliação do conhecimento sobre o comportamento da população no que diz respeito a temas de saúde.
Fontes
Brownstein JS, Freifeld BS, Madoff LC. Digital disease detection - harnessing the web for public health surveillance. N Engl J Med. 2009;360:2153-5.
Eysenbach G. Infodemiology and infoveillance: framework for an emerging set of public health informatics methods fo analyze search communication and publication behavior on the internet. J Med Internet Res. 2009;11(1):e11.