Um império econômico e um feudo político

Um império econômico e um feudo político

Jornal do Brasil


BRASÍLIA - Ex-contador da Prefeitura de Juara, Riva virou prefeito da cidade em 1982, então com 23 anos, o mais jovem do país. Sua renda à época era tão curta que, ao terminar o mandado, seis anos depois, comprou um Fiat 147 usado, que quase não saía da oficina, e passou a circular na região vendendo anúncios para um jornal que lançava no Norte do Estado. Na paralela, vendia imóveis e, dizem os adversários, realizava alguns negócios não muito republicanos com guias de transporte de madeira. Tentou, sem sucesso, virar deputado estadual em 1990, mas continuou insistindo e, em 1994, finalmente, conseguiu se eleger. Começava ali a mais longa dobradinha para controlar a Mesa Diretora da Casa. Sua declaração de bens entregue à justiça eleitoral em 2006 registra um patrimônio em torno de R$ 2,6 milhões, dos quais R$ 1.510.237.00 em dinheiro vivo depositado em vários bancos e R$ 630 mil em créditos referentes a dinheiro emprestado. O restante está distribuído em imóveis em Cuiabá, Juara e Porto dos Gaúchos.

Dirigente do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o ativista Gilmar Brunetto sustenta que patrimônio de Riva não declarado é incalculável, mas que seguramente o coloca entre os homens mais ricos do Mato Grosso.

– Ele tem negócios que passam pelas áreas imobiliária, pecuária, frigoríficos, comunicação, agricultura, comércio de combustíveis e garimpo, a maior parte em nome de laranjas – diz Brunetto. Outro ativista, Ademar Adms, coordenador da ONG Moral, diz que o deputado estadual José Riva comanda uma bancada de quatro deputados federais, entre os quais o mais fiel é Eliene Lima, eleito exclusivamente com o prestígio do presidente da Assembleia.

– O Riva hoje é mais forte que o Blairo Maggi – diz Adms, ao se referir ao empresário e governador do Mato Grosso, o rei da soja e do agronegócio.

Revezamento

Durante os últimos 13 anos, Riva e Bosaipo se revezaram no controle da Mesa diretora da Assembleia estadual e das finanças. Segundo o MP e os adversários, graças a generosa distribuição de benesses entre os colegas, a autoridades de outros poderes e a um arrojado esquema de gastos em publicidade nos veículos de comunicação locais, raramente são questionados.

Ao deixar Juara, em 1995, Riva levou para Cuiabá um grupo de amigos que entendia de contabilidade e, com ele, montou o que o Ministério Público considera o maior esquema de fraude para desviar recursos de uma única conta bancária, a de número 86.100, aberto pela assembleia no Banco do Brasil. Num espaço de quatro anos, entre 1998 e 2002, foram emitidos centenas de cheques – cujos valores variavam de R$ 100 a mais de R$ 4 milhões – nominais a empresas fantasmas criadas pela dupla para simular o pagamento a fornecedores e descontar, em forma de empréstimos, na Confiança Factoring.

O MP já listou cerca de 80 empresas, mas o número deve aumentar. Para cada uma delas foi aberta uma investigação, o que eleva para 119 a carga judicial que tramita em Mato Grosso e em Brasília sobre os ombros de Riva e Bosaipo. Segundo o MP, tudo funcionava como se fosse operação de fomento mercantil.

– Para completar o rombo, posteriormente os cheques eram compensados ou sacados em prol da Confiança Factoring, fechando assim o círculo criminoso de desvio de dinheiro público – diz o promotor Célio Fúrio. (V.Q.)

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