PF criará delegacia no noroeste de Mato Grosso

PF criará delegacia no noroeste de Mato Grosso


A Superintendência da Polícia Federal deverá criar uma delegacia do órgão na região noroeste e nordeste de Mato Grosso para combater crimes ambientais por serem regiões muito violentas, a exemplo de Colniza, que encabeça a lista dos municípios com a maior taxa de homicídio de Mato Grosso. De acordo com o superintendente da PF, Oslain Santana, essas novas delegacias constam no planejamento estratégico da instituição para 2022, mas ainda não há datas para serem implantadas.

O superintendente explica por que a Polícia Federal atua de maneira menos exposta que as demais polícias e ainda faz um balanço das atividades da Polícia Federal em 2008 como no combate ao tráfico de drogas. Foram 4 toneladas de entorpecentes apreendidas no ano passado. A instituição ainda desencadeou 15 operações e prendeu 337 pessoas, o maior número dos últimos quatro anos.

Folha - A Polícia Federal de Mato Grosso é uma das mais atuantes do país. Como o senhor avalia o trabalho da PF no combate a entorpecentes no Estado?

Oslain - A posição geográfica de Mato Grosso faz do Estado um corredor do tráfico de entorpecentes, particularmente a cocaína. Temos na Bolívia o terceiro maior produtor de cocaína do mundo e, por conseqüência e obrigatoriamente, passa por Mato Grosso. Diante disso, uma das prioridades que colocamos nos trabalhos de repressão aos crimes e atribuições da Polícia Federal é o tráfico de drogas, particularmente a cocaína. Em 2008 nossa superintendência apreendeu quatro toneladas de cocaína em Mato Grosso e mais duas toneladas fora do Estado.

Folha - Pela localização do Estado, a Polícia Federal tem mais trabalho?

Oslain - Em Mato Grosso do Sul se tem a cocaína colombiana, que desce até o Paraguai e entra no território brasileiro e passa pelo Mato Grosso do Sul, assim como a maconha produzida no Paraguai, conseqüentemente, ali vamos ter um número maior de apreensões de maconha. A maconha que vem pra cá é para consumo local. O número de apreensão de cocaína em Mato Grosso é bem maior em relação à maconha do que em MS, em razão da nossa fronteira seca. São 900 quilômetros de fronteira com a Bolívia.

Folha - Em relação aos crimes ambientais, deve ser complicado cumprir mandados de busca no Estado com essas dimensões, até mesmo pela falta de homens da Polícia Federal.

Oslain - Em cada árvore se tira seis metros cúbicos de madeira. Calcula-se que o metro cúbico de madeira custa, em média, R$ 1.200, então é muito dinheiro que dá, são organizações estruturadas, com influências dentro dos poderes constituídos e com dedo de madeireiros internacionais. A madeira é o ouro verde. E o combate necessita de uma estrutura, a madeira quando chega em São Paulo está legalizada, senão não tem como comercializar por um valor digno. Ou seja, há toda uma estrutura criminosa por trás. Nosso objetivo é encontrar essas pessoas que estão por trás dessa organização e prendê-las, sejam engenheiros florestais, contadores, proprietários rurais, madeireiros, servidores públicos que facilitam a falsa documentação, seja quem for. Apesar de o Estado ser muito grande, tem como combater. A madeira tem que ser deslocada por caminhões e se tem três rodovias para sair do Estado, obrigatoriamente vai ter que passar por uma delas.

Folha - O que é necessário para barrar esse processo?

Oslain - Seria o trabalho de identificação; saber quem são as pessoas envolvidas, madeireiros, servidores públicos que ‘esquentam’ a documentação, engenheiros florestais, os contadores que legalizam essa madeira. Esse trabalho Inteligente é repressivo, a gente verifica aquele plano de manejo, vê também se a madeireira é legalizada, se realmente existe. Esse é o objetivo da Polícia Federal e do Ibama, particularmente a extração ilegal de madeira e os crimes ambientais.

Folha - A Polícia Federal está conseguindo coibir a contento?

Oslain - O lucro acaba corrompendo as pessoas e por causa dele as pessoas arriscam serem presas pra cometer o crime. Acabar com o tráfico de drogas e de madeira é difícil, mas estamos diminuindo sim. É quase utópico, mas pode ser que consigamos um dia.

Folha - Como a Polícia Federal pode agir em regiões como Colniza, onde há crimes ambientais e violência?

Oslain - Nós temos competências constitucionais. Nós só podemos agir em crimes dentro das nossas competências, por uma determinação do Ministério da Justiça. Ele pode definir aqui que trabalhemos em um caso de roubos de carros em nível local, em um caso específico de homicídio ou num grupo de pistolagem que está atuando em Colniza. Então sempre há um contato com o ministro, com o presidente, oferece apoio pro Estado, o Estado vai aceitar e a Polícia Federal vai agir. No nosso planejamento estratégico para 2022 existe a previsão para a criação de uma delegacia nas regiões noroeste e nordeste do Estado, por serem regiões muito violentas.

Folha - No Brasil, normalmente, a Polícia Federal faz a rotatividade de delegados. Isso não atrapalha as investigações?

Oslain - A Polícia Federal é uma instituição praticamente nova e muita coisa nós copiamos de outras instituições. No Exército Brasileiro, os dirigentes de unidade ou oficiais são obrigados a se movimentar a cada dois ou três anos. Na Igreja Católica, da mesma forma, o padre não fica muito tempo no mesmo local. Em uma multinacional ocorre o mesmo com os executivos. Tudo isso para não criarem vínculos com o local onde se encontram. A PF adotou a mesma política, além disso, o policial federal não pode se regionalizar, ele deve ter uma noção de todas as regiões do Brasil, por isso essa rotatividade, mas tem prejuízo sim. O policial está novo em um determinado local, conhece a realidade e depois de passar a conhecer de verdade, vai pra outro local. Mas as informações das investigações ficam armazenadas no banco de dados para auxiliar os novos policiais e dar continuidade no trabalho.

Folha - Como senhor analisa as críticas quando uma pessoa investigada pela PF fica marcada como sanguessuga, por exemplo?

Oslain - Vamos analisar aquele caso do TRT de São Paulo, um desvio de verbas dentro do órgão, em que um magistrado foi acusado de ser um dos principais mentores. Colocaram um apelido nele (Lalau), mas não foi a polícia quem colocou. Aquele outro caso em que encontraram dinheiro nas roupas íntimas de um deputado, aquilo foi uma operação nossa, foi um flagrante. Então são jargões populares, mas não é tanto em razão do nome da operação.

Folha - Como é que se batizam as operações?

Oslain - Normalmente é o pessoal que coordena a operação que batiza. Os nomes eram relativos a deuses das mitologias grega e romana. Em algumas bases operacionais, como no Mato Grosso do Sul, eles utilizam nomes de tribos indígenas. O nome, normalmente, procura se aliar ao trabalho que está sendo feito, mas é uma falha dar um nome, por exemplo, como 'Operação Poeira no Asfalto' ou 'Asfalto Livre' caso se esteja investigando corrupção na Polícia Rodoviária Federal.

Folha - Normalmente as operações da PF têm dois nomes?

Oslain - Um nome prévio e um nome passado para a imprensa.

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