SALVE O ROCK! Distorção, solos e atitude

Foi com uma causa nobre que nasceu o Dia Mundial do Rock: combater a miséria e a fome na Etiópia. O Live Aid, idealizado por Bob Geldof – que atuou no filme “Pink Floyd – The Wall” – e Midge Ure, foi realizado há exatos 24 anos. Foi um dos maiores eventos de música já realizados, e é o motivo de se comemorar hoje o Dia Mundial do Rock.

Para se ter uma ideia da proporção do evento, basta dizer que havia palcos em Londres, Filadélfia (Estados Unidos), Sidnei (Austrália) e Moscou (Rússia). Além disso, o público que compareceu nesses locais pôde ver artistas que há um bom tempo não se apresentavam, como foi o caso do Led Zeppelin, que não tocava desde a morte de John Bonham em 1980 (e que na ocasião tocaram com Phil Collins na bateria). O Black Sabbath também se reuniu especialmente para o evento – desde 1979 a formação original não se reunia.

Este é o motivo de se comemorar o Dia Mundial do Rock no dia 13 de julho. Isso não explica todo o percurso desse gênero que moldou comportamentos, quebrou paradigmas e foi símbolo de rebeldia – esqueçamos as bandas excessivamente emocionais que pululam nas rádios hoje em dia.

Antigamente a situação era outra: o rock era uma válvula de escape para insatisfações de cunho mais sério – sejam questões raciais, militares ou mesmo políticas. Claro, havia quem expressasse sentimentos, mas nada de muitos vocais chorosos e letras sentimentalóides como se vê hoje em dia. Não que isso seja ruim, mas é que normalmente esse tipo de expressão artística está associado ao puro lado comercial do rock.

Mas essa é uma outra questão.

O próprio nome rock and roll já diz muita coisa: em tempos de excessivo preconceito, Alan Freed, um DJ branco, foi quem primeiro utilizou esse termo para designar esse estilo musical. Detalhe: rock and roll era uma gíria usada pelos negros para o ato sexual.

Guitarras

Desde então muita coisa aconteceu. A primeira guitarra elétrica, símbolo do estilo, foi construída em 1952, por Lester Polfuss. O nome do modelo: Les Paul. Muita gente pode não saber, mas esse é o modelo associado a grandes nomes do rock como Jimmy Page (do Led Zeppelin), Joe Perry (Aerosmith), Zakk Wylde (Ozzy Osbourne) e outros.

Depois daí surgiram outros modelos, como a Stratocaster, criado por Leo Fender em 1953. Esse modelo foi imortalizado nas mãos de Jimi Hendrix, e é o modelo preferido, por exemplo, de Yngwie Malmsteen e outros tantos guitarristas.

O corpo, as seis cordas e tudo mais que compõem uma guitarra acaba simbolizando todo o estilo. Há rock sem guitarra – por mais experimental que isso possa parecer –, mas quem gosta do estilo não dispensa uma distorção, solos e a atitude que está atrelada ao rock´n´roll – como incendiar ou quebrar guitarras no palco.

Comportamento

Apesar de o Dia Mundial do Rock ser comemorado há 24 anos, o estilo já é praticado, como se viu, há muito mais tempo. Na verdade ele já é um cinquentão, desses que tem muitas histórias no baú da memória: de discos clássicos, shows antológicos a brigas e conspirações outras – afinal, Elvis morreu? Esse sujeito, um caminhoneiro, é o responsável pelo suposto marco zero do rock: em 1954 ele gravou “That´s Allright Mamma”.

Uma das marcas indeléveis do rock é a mudança de comportamento. Rebeldia era usar os cabelos iguais aos dos Beatles – se bem que os índios do Brasil já passeavam pela floresta com o corte estilo cuia... –, vestir roupas rasgadas, fazer tatuagens ou cantar gritando.

São atitudes hoje tidas até como ingênuas, principalmente se compararmos aos extremismos do black metal, cujos músicos queimavam igrejas na Escandinávia (década de 90). Mas foram tais atitudes que moldaram gerações, que possibilitaram formas conscientes de reivindicações políticas e sociais.

Claro que muitas coisas não mudaram, e o próprio rock foi e é utilizado para propagar preconceitos – há bandas que são associadas ao nazismo ou a outras ideias que o rock vai de encontro, tendo em vista o seu surgimento.

Dead or alive?

Com 50 anos de vida, o rock já passou por altos e baixos, ascensões e decadências. Depois de passar um bom tempo no limbo e voltar ao topo com bandas como – gostem muitos ou não – Nirvana, Pearl Jam e todo o grupo do grunge, o que se vê é que inegavelmente hoje o rock é uma indústria: discos, videoclipes, camisetas e tudo mais que possa ser agregado a uma marca. Imagem é quase tudo.

Por isso muitos dizem que o rock morreu, que virou um acessório de boutique. Outros dizem que ele apenas se adaptou aos novos tempos. Com a internet e a possibilidade de se gravar no fundo de quintal com a mínima qualidade profissional, o rock se expande e ganha milhares de adeptos. Talvez seja esse um sinônimo de que ele está mais vivo do que nunca, ou talvez não.

Aos saudosistas, esse pode ser o indício de uma banalização do rock. Idiossincrasias à parte, não se pode negar o alcance do rock e a sua capacidade de adaptação à realidade de cada tempo. MP3, Napster, torrents e direitos autorais: o rock vai levando tudo isso com relativa tranqüilidade – mesmo que com a barriga de 50 anos regados a sexo, drogas e o que mais estiver ao alcance.

Ao longo desta semana o Folha 3 irá deslindar um pouco de cada estilo e um pouco mais sobre esse vertente musical que atravessou décadas sintonizado com a realidade mundial.
Data: 14/7/2009
Fonte: Folha do Estado
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